localização

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Corpo Político, Educação Física e Agressão para Disciplinação dos Corpos

Corpo Político, Educação Física e Agressão para Disciplinação dos Corpos


François Ewald apud Michel Foucault, 1992.

”As relações de poder não passam fundamentalmente a nível de direito nem de violência, mas o poder como violência legalizada. A norma precisa de um parâmetro para identificar o que é normal e o que é anormal nesse contexto, buscando assim a média. Faz se uma verificação da população dentro dos padrões exigidos, e verifica-se aquelas que estão na média ou fora dela”


Nas diversas modalidades será que podemos observar a normalização como ponto de partida para o desenvolvimento do esporte em pauta pelo professor?
Em uma aula de voleibol o professor ao começar ensinar o toque discorre sobre como ele é executado, onde a bola teoricamente tem que tocar na mão nos dedos, o movimento dos braços, punho, na manchete posicionamento e movimento do quadril diante da bola, colocação dos braços, punho, cotovelo, o saque, bloqueio, ataque, posição fundamental entre outros fundamentos, tendo assim esses suas particularidades e que se não forem observados pelo aluno a sua execução, quem esta orientando dirá que seu movimento não esta correto por não estar conforme a norma estabelecida pelos manuais de treinamento que são reconhecidos internacionalmente. Onde os treinadores mais conceituados dissertam sobre suas experiências de anos de práticas.
Podemos ver então que aqueles que não se adequarem estarão fora, e não precisará na maioria das vezes o professor excluí-lo do processo de “seleção”, quero dizer de aperfeiçoamento ou aprendizagem, o próprio educando se auto excluiria porque não se vê como igual aos seus colegas, e sim de forma diferente, porque muito dos gestos que devem ser executados para estar conforme a norma ditada, ele não consegue executar com a mesma rapidez e desenvoltura que seus colegas que estão a fazer diariamente. Podemos então aqui ver diversos gestos de violência: as que ficam nas relações de indivíduos que são aprendizes utilizando palavras que ofende o colega que esta fora da norma, esta que são gestos calculados e normatizados pelo consenso, numa relação que o melhor é aquele que aprende a fazer com o mínimo de erros ou sem.
Presenciamos a violência simbólica através de olhares, de gestos, de gracinhas onde erros são atos quem tiram a pessoa da média de acertos estipulada subjetivamente pelos participantes do jogo. Muitas vezes quem é violentado não se sente, por achar até que os colegas tem razão porque aquilo é normal, afinal o esporte é para quem tem habilidade para sua prática e não tendo essa habilidade deve ficar assistindo aqueles que obtém essa destreza, esse jogo bonito.
As formas são várias e todas elas constroem estigmas que ficarão na maioria das vezes para sempre nos marcando e que nem sofreremos porque como já disse achamos isso a norma, normal. “A norma segundo Foucault pág 109, desigualiza do mesmo modo, é alias, a única objetividade que nos dá: a norma convida cada individuo a reconhecer-se diferente dos outros; encerra-os no seu caso, na sua individualidade, na sua irredutível particularidade”.
Assim contribuirão para não mais participarmos de jogo algum, e esta negação do jogar que falo não me refiro ao esporte de competição com regras oficiais com tempo estipulado, número de jogadores com gestos perfeitos, me refiro sim a atividades de lazer que nos leve a sentirmos prazer em estar praticando, onde o que interessa não é o resultado quantitativo, mas sim o que teremos em troca qualitativamente sendo não um fim para qualidade de vida, mas um meio.
Segundo Foucault “é dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado”, mas e você olha o seu caso, auto policiando, não precisando que outra pessoa venha te dizer que você não sabe jogar conforme está estipulado, tornando se dócil porque você também não quer saber o motivo que leva a esse fato, mas se você consegue ter habilidade o suficiente para ser aceito no grupo dos adestrados, poderá ser utilizado e até melhorado sendo assim aperfeiçoado para um objetivo que será ter sucesso num time ou apenas nas práticas entre amigos.
Concluo dizendo que os esportes são meios pelos quais podemos exercer trocas e também onde pessoas poderão ser manipuladas nesse espaço que também é de relações de poder onde me auto policio, me encerro em meu caso, na minha individualidade sendo posto de lado do processo que faço parte, me reconhecendo como diferente do outro, às vezes sendo melhor outras pior, mas sempre nessa troca com o outro, onde se dá a micro física do poder.

Um comentário:

  1. Existe na sociedade e em todos seus espaços formas de exclusão e controle. Mudar uma sociedade no sentido politico implica compreender todas estas variaveis que tu vens escrevendo. Não basta "tomar" o poder politico do Estado, nem expropriar e socializar os "meios de produção", tem que ser construida uma nova cultura de resistencia às práticas excludentes e dominadoras. É uma das formas de fazer uma "Revolução Cultural".

    ResponderExcluir