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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Educação Física e Seu Corpo Político

O corpo político é estruturado por diversos fatores que o atravessam, para que assim constituam-se subjetividades. E a Educação Física constitui-se através de seu esquadrinhamento, com métodos, regras, sistemas que vem a contribuir a essa anatomia política.

Veremos a partir de agora como que historicamente constituiu-se a Educação Física através de suas concepções que contribuíram para constituição de sua  anatomia política. É assim então que a partir da virada do século XIX para o XX presenciamos uma Educação Física Higienista que se preocupa com a aquisição e manutenção da saúde individual. Procurando homens sãos, sadios, dispostos a ação, mas a sua devida preocupação é com a assepsia social.

A partir de 1930 vislumbramos então a Educação Física Militarista, não sendo de enfoque militar, mas que tem ligações, por procurar condutas disciplinares espelhados no regime da caserna. Tendo que a juventude esteja preparada para a guerra, o combate. Em seguida por volta de 1945 encontraremos a implantação da Educação Física Pedagogicista, essa concepção não quer uma prática que vá só promover a saúde ou a disciplina, mas que seja educativa, dizendo que é a única forma de promover a chamada Educação Integral. Colaborando para que a juventude melhore a saúde, adquira hábitos fundamentais, preparo vocacional e racionalização das horas de lazer, indo até meados de 1964.

Pós 64 encontraremos a Educação Física Competitivista, voltada ao atleta herói que apesar de todas as dificuldades conseguiu chegar no podium, ficando assim resumido ao desporto de alto nível, advogando uma neutralidade em relação aos conflitos sociais.

Conforme Foucault (p.xvi,1979), “o poder possui eficácia, uma positividade. E é portanto este aspecto que explica o fato de que tem como alvo o corpo humano, não para supliciá-lo, mutilá-lo, mas para aprimorá-lo, adestrá-lo”. Partindo desta citação de Michel Foucault analisaremos as varias concepções de Educação Física que encontramos na história.

A Educação Física Higienista tem como centro de sua preocupação que o homem se redima de sua ignorância de saúde desenvolvendo, por conseguinte uma preocupação individual como a manutenção da saúde, Porque como sabemos nesse momento histórico nosso país passava por um desenvolvimento industrial e por conseqüência um inchaço das cidades, onde as pessoas com pouco poder aquisitivo instalavam-se em guetos vivendo em condições de higiene precária. Assim o indivíduo que não estivesse segundo as regras postas na sociedade, não se enquadrando nessa perspectiva de saúde , higiene era um significante de doenças e vícios e poderia ocasionar deterioramento da sociedade como um todo. Porém também entra neste dado momento a limpeza da raça, por causa principalmente da abolição que tinha acontecido a pouco tempo, determinando essa concepção para assepsia social.

O que podemos analisar então é que as praticas de Educação Física eram desenvolvidas através de atividades que propiciavam o saneamento publico. Devemos perceber que nesse dado momento eram poucos que tinham uma determinada condição econômica, portanto se o que era propagandeado era um corpo sadio, a sociedade tinha que espelhar-se nisto e aqueles que não estivessem conforme regras estipuladas não condiziam com o normal.

Já na Educação Física Militarista o enfoque era relacionar naturalmente através de técnicas, os mais capazes, eliminando assim os mais fracos predominando os mais fortes, depurando as raças, que iriam aqui através de atividades físicas selecionar indivíduos que seriam conforme o pensamento predominante melhor, porque na purificação e melhoria das raças seria através de exercícios que pudessem verificar quais eram na sociedade as melhores estirpes. Aqui podemos ver que não é preciso levar as pessoas ao sofrimento para sua aprimoração, como genocídio, mas através de sutilezas, deixando mais uma vez a pessoa ver-se como fora da média, durante a prática de exercícios físicos e ela mesmo se auto excluindo de todo o processo.

Também tendo como objetivo a disciplina as atividades são voltadas para que os alunos façam movimentos conforme o guia, e que consigam fazer o número de repetições dos exercícios que hora é mandado executarem. Assim o corpo é atravessado por regras adestrando-o tendo dois objetivos os de fazer com rigidez, disciplina as tarefas e o de não questionar as ordens estabelecidas.

A Educação Física Pedagogicista que entra a partir de 1945 aprofunda mais o que se refere o uso das horas racionalmente, educando através de exercícios que visem a saúde, disciplina sendo assim como abordamos uma educação integral. Preparando ao altruísmo, culto as riquezas nacionais. Concorreria junto o aumento do número de alunos nas redes de ensino do país, tendo assim as escolas que propiciar a Educação Física para essa leva que estava ingressando no espaço escolar.

Através dessa concepção que tinha que ser passada para esses alunos ficava mais solúvel tornar o homem do ponto de vista econômico e político, mais útil e dócil, conforme Foucault em Microfisica do Poder.

Com a Educação Física Competitivista veremos o culto ao homem que tem como norte o herói, individualizando a Educação Física através da prática de atividades esportivas. Havendo uma maior teorização com leis, regras que dirigem essa área, tendo assim um maior esquadrinhamento teórico e, por conseguinte de verificação do corpo, voltado aqui à Educação Física, porque se pegarmos no referente a medicina, psicologia, entre outras veremos que essas também utilizavam dos mesmos métodos, os de divisões para vigiar o corpo.

O que tento mostrar é que as concepções Higienistas, Militaristas, Pedagogicista e Competitivista são uma seqüência, elas não morrem quando a outra inicia, elas atravessam uma por dentro da outra. Em cada uma pegaremos resquícios da outra, às vezes com mais ênfase, às vezes com menos, mostrando então que o controle sobre o corpo dá se por regras, normas, que dependendo da época são mais acentuadas em determinada concepção pedagógica.

Todas não deixam de trabalhar com a saúde, higiene, servidão, obediência, educação, ensino, competição em busca do atleta herói, mas notemos que o controle sobre o corpo torna-se cada vez mais sutil, o que determina o que é um corpo adequado, normal são os quilos que tem, a quantidade de vezes que faz exercícios, a alimentação que se submete, a perfeição do movimento...”trataríamos ai do corpo político como conjunto dos elementos materiais e das técnicas que servem de armas, de reforço, de vias de comunicação e de pontos de apoio para relações de poder e de saber que investem os corpos humanos e os submetem fazendo deles objetos de saber” Foucault p/27, passamos então a ver as diversas metodologias, técnicas de treinamento, de verificação de mensuração, onde um fiscaliza o outro e as pessoas se fiscalizam a si próprias num auto controle.


_ Foucault, Michel. Vigiar e Punir:nascimento da prisão;Tradução de Raquel Ramalhete;23ª Edição; editora vozes;

_ François, Ewald – Foucault: Norma e o Direito; Comunicação e Linguagem, edt. Veja;


Um comentário:

  1. Esta muito bom teu trabalho investigativo e prespectiva de análise. Teus textos apresentam uma coerencia uns com os outros. Não sei o que vem pela frente, mas seria interessante acrescentar alguma análise de caso. Ou montar projeto para tal (de repente até um mestrado ....).
    É interessante a referência em Foucaulto pois este filosofo/historiador trabalha a questão das relações de poder dentro de uma prespectiva genealógica.
    Estou curioso para ver o que mais tu tens escrito.
    Te faço um convite para selecionar uns textos teus para publicar na Revista Eletrônica Estratégia e Análise. Me escreve!!!

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